quinta-feira, 22 de novembro de 2012

LIVRE-ARBÍTRIO



Supõe que estás na bicha de uma cantina e que, quando chegas às sobremesas, hesitas entre um pêssego e uma grande fatia de bolo de chocolate com uma cremosa cobertura de natas. Escolhes o bolo.
No dia seguinte perguntas-te: “Podia ter comido antes o pêssego” Que quer dizer isto? E será verdade?
Havia pêssegos quando estavas na bicha da cantina: e tiveste oportunidade de ter tirado antes um pêssego. Mas não é apenas isso que queres dizer. Queres dizer que podias ter tirado o pêssego em vez do bolo. Podias ter feito algo diferente daquilo que realmente fizeste. Antes de te teres decidido, estava em aberto se havias de tirar fruta ou bolo, e foi apenas a tua escolha que decidiu qual dos dois havias de comer.
Quando afirmas “podia ter comido antes o pêssego”, queres dizer que isso dependia apenas da tua escolha?
Mas isto ainda não parece suficiente: Não queres apenas dizer que, se tivesses escolhido o pêssego, teria sido isso que terias comido. Quando dizes “podia ter comido antes o pêssego”, também queres dizer que podias tê-lo escolhido – não há aqui ses nenhuns. Mas que quer isto dizer?

Não pode ser explicado fazendo notar outras ocasiões em que de facto escolheste comer fruta. O que estás a dizer é que podias ter escolhido um pêssego em vez de bolo de chocolate naquele momento, tal como as coisas realmente eram. Pensas que podias ter escolhido um pêssego mesmo que todas as restantes coisas fossem exactamente da mesma maneira até ao momento em que de facto escolheste bolo de chocolate.
Esta é uma ideia de “pode” ou “poderia” que aplicamos só às pessoas (e talvez a alguns animais). Quando dizemos “o carro podia ter chegado ao cimo da colina”, queremos dizer que o carro tinha potência suficiente para chegar ao cimo da colina se alguém o tivesse conduzido até lá.
Até ao momento em que escolhes nada determina irrevogavelmente qual será a tua escolha. Escolher o pêssego continua a ser para ti uma possibilidade em aberto até ao momento em que de facto escolhes bolo de chocolate. A tua escolha não está determinada à partida.
Algumas coisas que acontecem estão determinadas à partida. Por exemplo, parece estar determinado à partida que o Sol se levantará amanhã a uma certa hora. O Sol não se levantar amanhã e continuar a noite não é uma possibilidade em aberto. Tal não é possível porque apenas poderia acontecer se a Terra parasse de rodar, ou se o Sol deixasse de existir, e não se passa nada na nossa galáxia que pudesse fazer com que qualquer destas coisas acontecesse. Se não existir qualquer possibilidade de a Terra parar ou de o Sol não estar lá, não há qualquer possibilidade de o Sol não se levantar amanhã.
O que queres dizer é que não havia processos ou forças a operarem antes de fazeres a tua escolha que tenham tornado inevitável o facto de teres escolhido bolo de chocolate.
Se, na verdade, estivesse realmente determinado à partida que irias escolher comer bolo, como podia simultaneamente ser verdade que podias ter escolhido comer fruta? A verdade é que nada te teria impedido de comer um pêssego se o tivesses escolhido em vez do bolo. Mas estes ses não são o mesmo que dizer apenas que podias ter escolhido um pêssego. Não poderias tê-lo escolhido a não ser que a possibilidade continuasse aberta até a fechares com a tua escolha do bolo.
Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente daquilo que de facto fazemos neste sentido absoluto. Reconhecem que aquilo que fazemos depende das nossas escolhas, decisões e desejos e que fazemos escolhas diferentes em circunstâncias diferentes. Mas afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes de agirmos determinam as nossas acções e tornam-nas inevitáveis. O total das experiências, desejos e conhecimentos de uma pessoa, a sua constituição hereditária, as circunstâncias sociais e a natureza da escolha com que a pessoa se defronta, em conjunto com outros factores dos quais pode não ter conhecimento, combinam-se todos para fazerem com que uma acção particular seja inevitável nessas circunstâncias.
A ideia não consiste em que podemos conhecer todas as leis do universo e usá-las para prevermos o que irá acontecer. Em primeiro lugar, não podemos conhecer todas as circunstâncias complexas que afectam uma escolha humana. Em segundo lugar, mesmo quando chegamos a saber alguma coisa acerca dessas circunstâncias e tentamos fazer uma previsão, isso já é uma alteração nas circunstâncias, o que pode alterar o resultado previsto. Mas a previsibilidade não é o que está em questão.
A hipótese é que existem leis da natureza, tal como aquelas que governam o movimento dos planetas, que governam tudo o que acontece no mundo.
Se isso é verdade, então mesmo quando estavas a decidir que sobremesa irias comer já estavas determinado pelos muito factores que operavam sobre ti e em ti que irias escolher o bolo, Não poderias ter escolhido o pêssego, apesar de pensares que podias fazê-lo: o processo de decisão é apenas a realização do resultado determinado no interior da tua mente.
Se o determinismo é verdadeiro para tudo o que acontece, já estava determinado antes de nasceres que havias de escolher o bolo. A tua escolha foi determinada pela situação imediatamente anterior, e essa situação foi determinada pela situação anterior a ela, e assim sucessivamente, até ao momento em que quiseres recuar.
Mesmo que o determinismo não seja verdadeiro para tudo o que acontece – mesmo que algumas coisas aconteçam simplesmente, sem serem determinadas por causas que já existiam – continuaria a ser significativo se tudo aquilo que fizemos estivesse determinado antes de o fazermos.
Algumas pessoas pensam que, se o determinismo é verdadeiro, ninguém pode ser razoavelmente elogiado ou condenado por nada, tal como a chuva não pode ser elogiada ou condenada por cair. Outras pessoas pensam que continua a fazer sentido elogiar as boas acções e condenar as más, ainda que elas sejam inevitáveis. Afinal de contas, o facto de alguém estar determinado à partida a comportar-se mal não quer dizer que não se tenha comportado mal. Se rouba os teus discos, isso revela falta de consideração e desonestidade, quer tenha sido determinado, quer não. Alem do mais, se não o condenarmos, ou talvez até se não o castigarmos, voltará, provavelmente a fazê-lo.
Por outro lado, se pensarmos que aquilo que fez estava determinado à partida, isso parece-se mais com o castigo de um cão que roeu o tapete. Não quer dizer que o consideramos responsável por aquilo que fez: estamos apenas a tentar influenciar o seu comportamento no futuro. Por mim, não penso que faça sentido condenar alguém por algo que lhe era impossível não fazer.
Muitos cientistas acreditam hoje que o determinismo não é verdadeiro para as partículas básicas da matéria. – que numa dada situação existe mais de uma coisa que um electrão pode fazer. Se o determinismo também não for verdadeiro para as acções humanas, talvez isso deixe algum espaço para o livre arbítrio e para a responsabilidade. E se as acções humanas, ou pelo menos algumas de entre elas, não estiverem determinadas à partida?
Mas o problema reside em que, se a acção não estava determinada à partida pelos teus desejos, crenças e personalidade, entre outras coisas, parece que foi apenas algo que aconteceu, sem qualquer explicação. Mas, nesse caso, como pode ter sido algo feito por ti?
A acção livre limita-se a ser uma característica básica do mundo e não pode ser analisada. Há uma diferença entre algo que aconteceu, sem uma causa, e uma acção que se limita a ser realizada, sem uma causa.
Portanto, talvez o sentimento de que podias ter escolhido um pêssego em vez de uma fatia de bolo seja uma ilusão filosófica, que não podia ser correcta, fosse qual fosse o caso.

NAGEL, Thomas, Que Quer Dizer Tudo Isto? – uma iniciação à filosofia, 2ª edição, 2007. Lisboa: Gradiva, pp. 46-55

TAREFA:
Comeste o pêssego. Será que poderias ter feito uma escolha diferente? Justifica a tua resposta a partir das teorias que estudaste. (Deixa a tua resposta na caixa dos comentários.)

15 comentários:

Anónimo disse...


Sim, poderia mas quando estava a decidir que sobremesa iria comer já estava determinada por muito fatores que operavam sobre mim que iria escolher o pêssego.
Um dos problemas do livre arbítrio é a capacidade para decidir em liberdade, neste caso, quando escolhi o pêssego tinha a liberdade de escolher outra sobremesa mas independentemente de qual fosse a minha escolha, já estava determinado que iria escolher comer o pêssego, pois todos ou quase todos os acontecimentos estão determinados, e se as ações são acontecimentos, logo as ações estão determinadas.
A crença no livre arbítrio é a crença de que há acontecimentos que não são o simples desfecho de ações anteriores, ou seja, dependem da nossa vontade, das nossas escolhas, das nossas deliberações, assim sendo, apesar de poder escolher outra sobremesa, a minha vontade, as minhas escolhas determinavam que iria escolher o pêssego.
Márcia Teixeira,10ºD,nº19

Armando' disse...

A escolha efectuada já estava decidida por muitos factores. O livre arbitrio dá-nos a liberdade de, neste caso, escolher outra sobremesa mas já estava determinado que eu ia escolher o pêssego pois todos os acontecimentos estão determinados e se as ações são acontecimentos, as ações estão determinadas !

Cristiana Lopes disse...

A escolha do pêssego já estava determinada anteriormente por muitos fatores que operavam sobre mim e em mim. Todos os acontecimentos estão determinados. As ações sao acontecimentos. Logo, as as ações estão determinadas. Aparentemente, todos os acontecimentos estão determinados por acontecimentos anteriores. Explica-se uma ação referindo as crenças e os desejos do agente, como vimos anteriormente. Contudo, as crenças e desejos do agente sao acontecimentos no mundo como quaisquer outros. Neste caso, sao acontecimentos que ocorrem no cerebro. Estes sao o resultado causal dos acontecimentos anteriores. Logo, visto tudo isto, significa que nao somos livres, ou seja, as nossas escolhas já estao pré-determinadas.

Anónimo disse...

Poder, podia. Mas acontece que apesar de da escolha ser diferente há sempre algo que está determinado antes de fazermos a nossa escolha, quer queiramos quer não. Como por exemplo: "Quer eu escolha o bolo ou o pêssego sei que haverá sempre pelo menos uma sobremesa que não comerei."
Isto é um problema do livre-arbítrio. Apesar de escolhermos sempre aquilo que pensamos que queremos, julgando assim sermos livres, há sempre o determinismo a convencer-nos do contrário. É verdade que o determinismo não é sempre igual, como refere no texto, ao contrário do Sol que parece estar determinado a levantar-se todas as manhãs, as nossas escolhas não são determinadas à partida. Posso ter determinado comer o pêssego mas ao último instante escolho comer o bolo.
Neste caso até pode parecer que o livre-arbítrio nos dá toda a liberdade possível mas há sempre uma razão para as nossas escolhas, determinadas, logo, o livre-arbítrio não nos dá assim tanta liberdade. Por exemplo: " Escolhi o bolo de chocolate em vez do pêssego mas voltei a trocar a sobremesa porque me lembrei que tenho de ir ao dentista e logo, não posso comer doces." Aí está uma razão que determinou a nossa escolha.
Também posso escolher não comer nenhuma das sobremesas porque não gosto nem de uma coisa nem de outra mas nesse caso estamos novamente a ser "presos" pelo determinismo pois nenhuma das sobremesas agradava então já estava determinado desde o momento que soube quais eram as sobremesas que nenhuma delas seria comida.
Por isso o livre-arbítrio pode ser visto por muitos como uma ilusão ou simplesmente uma realidade limitada devido às "barreiras" do determinismo.

Iliane Soares nº12 10ºD

Anónimo disse...

Sim, poderia ter feito uma escolha diferente. Como diz o texto se eu estivesse na fila da cantina e visse na prateleira da sobremesa para escolher entre a fatia de bolo de chocolate e o pêssego eu escolheria a fatia de bolo de chocolate. Como diz o problema do livre – arbítrio, todos os acontecimentos estão determinados. Eu ao escolher o bolo de chocolate, em vez do pêssego determinei a minha escolha. A crença no livre arbítrio, é a crença de que á acontecimentos que não são o simples desfecho de acontecimentos anteriores, isto é dependem da nossa vontade, da nossa escolha e da deliberação.

Daniela Lima nº8 10ºD

Anónimo disse...

Sim, poderia ter feito uma escolha diferente, mas já estava determinado que eu iria escolher o pêssego, pois todos os acontecimentos estão determinados e as acções são acontecimentos, logo, as acções estão determinadas.
O problema do livre arbítrio consiste na capacidade de decidir em liberdade.

Inês Santos 10ºD nº14

Anónimo disse...

Sim, poderia ter escolhido o bolo de chocolate em vez do pessêgo, mas " o ter escolhido o pêssego" é um acontecimento e já estava causalmente determinado pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza (o determinismo).
O livre arbrítio é a capacidade de decidir em liberdade, logo está relacionado com a minha escolha: nós temos a liberdade de escolher, mas já estavamos determinados a escolher o pêssego. Logo, se as nossas ações resultam causalmente dos nossos desejos e crenças, e se estas resultam por sua vez de acontecimentos anteriores, as nossas ações resultam indiretamente desses acontecimentos anteriores.
Daniela Santos nº9 10ºD

Anónimo disse...

Sim, poderia ter escolhido o bolo de chocolate em vez do pessêgo, mas " o ter escolhido o pêssego" é um acontecimento e já estava causalmente determinado pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza (o determinismo).
O livre arbítrio é a capacidade para decidir em liberdade: nós tivemos a liberdade de escolher o pêssego mas já estavamos determinados a escolhe-lo. Logo, se as nossas ações resultam causalmente dos nossos desejos e crenças, e se estas resultam por sua vez de acontecimentos anteriores,as nossas ações resultam indiretamente desses acontecimentos anteriores.

Daniela Santos nº9 10º D

Anónimo disse...

Sim, poderia ter feito uma escolha diferente, mas já estava determinado que eu iria escolher o pêssego, pois todos os acontecimentos estão determinados.

Andreia Santos 10ºD nº3

Anónimo disse...

Supondo que eu comi um pêssego, aparentemente a escolha foi minha, pois podia ter escolhido outra peça de fruta. Apesar de ter optado pelo pessego, esta escolha já estava determinada por muitos outros fatores que incidiam sobre mim. Eu podia ter sido obrigada por alguém a comer o pessego, mas continuava a ser uma açao determinada, contudo deixava de haver livre arbitrio. Portanto posso concluir que todos os acontecimentos estao determinados independentemente de haver livre arbitrio ou nao.

Ana Basílio nº2 10ºD

Anónimo disse...

Sim poderia ter feeito uma escolha difernte, mas já estava determinado escolher o pessego, pois todos os acontecimentos estavam determinados.
A crença no livre arbitrio é a crença de que há acontecimentos( aç~~ões humanas) que não são o simpes desfeixo de acontecimentos anteriores, isto é, dependem da nossa vontade, das nossas escolhas e deliberações.
O problema do livre arbítrio é a capacidade de decidir em liberdade.
Fátima Gândara nº20 10º D

Anónimo disse...

Sim poderia ter escolhido o bolo de chocolate. Mas tive uma certa crença e um certo desejo que me determinou a escolher o pêssego.
O problema do livre-arbítrio defende que todos os acontecimentos estão determinados; as ações são acontecimentos; logo, as ações estão determinadas. Isto quer dizer que eu já estava determinado a escolher o pêssego, e que não podia escolher o bolo de chocolate.

Daniel Lopes nº7 10ºD

Anónimo disse...

Eu escolhi comer o bolo. No entanto penso que podia ter tomado outra decisão, que neste caso seria a de comer o pêssego. Segundo os libertistas, eu tinha a liberdade de deliberar as minhas hipóteses e de depois então tomar uma decisão. Mas será mesmo assim? Do ponto de vista dos deterministas, a minha escolha já estava pré-destinada e a ideia de que eu tinha a liberdade para escolher entre o bolo e o pêssego era apenas uma ilusão. Isto porque os deterministas defendem que nenhum ser humano é livre. Sendo assim, apesar de eu achar que podia ter escolhido o pêssego em vez do bolo, a minha decisão já estava tomada pois eu não sou livre.

Carolina Ferreira, nº1, 10ºD

Anónimo disse...

Ao escolher o pêssego posso pensar que tive livre-arbítrio na minha escolha. porém estou enganado pois todos os acontecimentos fazem parte de uma cadeia causal, sendo cada um causado por um acontecimento anterior. Por isso ao escolher o pêssego a minha escolha já estava determinada por acontecimentos anteriores.

Bruno Henriques nº5 10ºD

Anónimo disse...

É verdade poderia ter escolhido o bolo.
Mas a minha escolha já estava determinada para comer o pêssego.
Uma das consequências do livre arbítrio é o poder de escolha, ou seja, tenho a liberdade de poder escolher, embora neste caso a minha escolha já estava determinada, já estava determinado ter escolhido o pêssego. Pois todos os acontecimentos estão determinados .
Mariana Moitoso 10ºD nº21