terça-feira, 23 de dezembro de 2008

ARTE E NATUREZA ii


“O lema universal do nosso tempo é ‘Voltemos à Vida e à Natureza; elas recriarão para nós a Arte, lançando sangue vivo nas suas veias, calçarão os seus pés com a velocidade, e tornarão forte a sua mão’. Mas, coitados de nós, enganámo-nos nestes nossos esforços cordiais e bem-intencionados. A Natureza fica aquém dos tempos. E, quanto à Vida, é ela o dissolvente que corrói a Arte, o inimigo que semeia a destruição na sua casa.”
O que quero dizer é isto: se entendermos por Natureza o simples instintivo natural, por oposição à cultura consciente de si mesma, a obra produzida sob uma tal influência será sempre fora de moda, antiquada e anacrónica. Uma pitada de Natureza poderá revelar o parentesco fundamental de toda a gente, mas duas pitadas de Natureza destruirão qualquer obra de Arte. Se, por outro lado, considerarmos a Natureza como o conjunto de fenómenos exteriores ao homem, só acharemos nela o que lá pusermos. Em si, é desprovida de impulsos próprios.
WILDE, Oscar, Intenções, 3ª edição, 2006. Lisboa: Livros Cotovia, p. 28

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